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Luz

Ryu K.

* * *

P.S.: essa fic foi inspirada no começo de um livro (Ensaio sobre a Cegueira) de José Saramago. Eu não li o livro inteiro, fiquei apenas nas trinta primeiras páginas e gostei da idéia como um todo.

* * *

"Pior cego é aquele que não quer ver"

* * *

Era uma noite qualquer, os cinco pilotos desfrutavam de sua paz recém-adquirida e tentavam levar uma vida simples. Os cinco haviam decidido morar na mesma casa e acabaram por dividir os quartos. Heero e Duo ficaram com um, Quatre e Trowa com outro e Wufei em outro. Duo e Heero continuavam com suas brigas constantes. Quatre e Trowa ao que parecem estavam mais... íntimos. Wufei mantinha seu mau-humor constante.

Mas a paz, que era o objetivo principal de todos eles, continuava a ser zelada, por todos. Nessa noite, todos aguardavam apenas a presença do soldado perfeito para que pudessem jantar. Eles estranhavam que o mesmo ainda não havia voltado ou mesmo, que ele não avisasse que algum imprevisto ocorrera. Ele sempre fora o mais responsável de todos, mostrando que como moravam juntos, poderiam ao menos não deixar os outros preocupados. Duo estava ficando impaciente e foi andando até o portão principal do pequeno sobrado e pulou no muro, onde ficou sentado esperando o jovem piloto retornar. Os outros três iniciaram sua refeição, mesmo preocupados com o amigo.

Oito horas da noite. Heero ainda não havia voltado e Duo estava inquieto, como se algo o avisasse para sair e procurar pelo soldado perfeito. Em um rompante, ele sai da casa e vai a busca do soldado perfeito, temendo pelo pior. Quatre resolveu ficar em casa, enquanto Trowa e Wufei iniciaram buscas pelas redondezas.

Duo sabia que se o soldado não tinha voltado até agora, só poderia estar com problemas. Há algum tempo atrás, ele descobriu que Heero possuía um carinho especial por um certo lugar, onde uma vez, ele havia quase sido morto. Sempre que estava confuso ou triste, não que ele admitisse isso, ele ia até aquele lugar. Duo, como sempre, o seguira várias vezes para ver se ele ficaria bem. Era difícil para ele controlar esse impulso de agarrar o soldado perfeito pelo ombro e beija-lo. Duo amava Heero há muito tempo, mas nunca tivera coragem de declarar seu amor ao amigo. Tinha medo da rejeição. Tinha medo da reação dele. Mas o principal medo de Duo era perder a amizade do soldado. Agüentaria ficar ao seu lado apenas, desde que o outro não o ignorasse. Duo corre cada vez mais rápido, com medo que algo de ruim tenha acontecido com ele.

* * *

Três horas da tarde. Heero voltava de mais uma de suas missões bem-sucedidas pela Aliança. Decidira caminhar um pouco pelo parque, local que tanto gostava de ir. Lá ele ficava em paz, pelo menos durante algum tempo. Não tinha que ouvir a maldita voz de Duo Maxwell. Maldita? Ele sabia que dentro de si aquela opinião era totalmente diferente. Não odiava Duo Maxwell. Mas justamente por gostar tanto, o afastava, com medo de que o outro se machucasse com isso. Ele nutria sentimentos muito fortes pelo piloto mas não conseguia controla-los. Muitas vezes, afastando quando queria aproximar. Por isso brigavam tanto. Sua mente era uma confusão de tantas coisas, não sabia quanto tempo agüentaria tal situação, mas sabia que não poderia ficar muito tempo longe do piloto de longos cabelos e olhos violetas. Ele olha novamente para os céus e sorri. O dia estava maravilhoso. Heero está deitado na grama, olhando para o céu. Quando ele levanta seu corpo, não vê nada. Tudo está branco. Seu corpo começa a entrar em pânico com uma única possibilidade, mas... era impossível. Ele passa a mão pelo seu rosto e aguça todos os seus sentidos tentando entender o que havia acontecido. Nada acontece. Ele controla seu corpo para que o desespero não tomasse conta de si, fecha seus olhos e tenta relembrar tudo o que aconteceu, tentando relaxar seus músculos. Durante duas, três, quatro horas, Heero ficou lá, parado, tentando entender por que seu corpo lhe traía dessa maneira. Não se lembrava de nada que poderia ter acontecido com seu corpo para que sua visão lhe faltasse. Sabia de pessoas que haviam ficado cegas, nem que temporariamente, mas o que as pessoas lhe descreviam era diferente. Sempre imaginou que o mundo de um cego era algo escuro e sombrio. Mas aquilo era diferente. Estava tudo muito claro. Não enxergava absolutamente nada, mas... nem por isso, a sua visão ficava escura. A confusão começou a tomar-lhe a mente e, um certo desespero tomou seu corpo. Não havia lutado com ninguém, não havia sequer feito esforço físico, por que isso agora?

Lentamente, Heero ergue-se e se apóia em algo que supõe ser uma árvore. Ele não consegue aprumar seus sentidos para saber onde está, está perdido. Ele tenta andar alguns passos e tropeça em algo que julga ser uma pedra ou algo do gênero. Não entendia o que estava acontecendo com seu corpo e, não pela primeira vez, mas como poucas vezes ocorreram, Heero estava com medo. Caído ao chão, lágrimas começaram a cair de seus olhos, que estavam perdidos. Os olhos que continuavam com o belo azul, mas não mais demonstravam a frieza do soldado perfeito. Os olhos de Heero eram agora o de um ser humano, perdido, sozinho, desesperado, tentando entender por que seu corpo não lhe obedecia, por que isso tinha acontecido com ele. Ele tentava entender o que ele havia feito para que isso acontecesse, afinal, ele tinha que ter feito algo. Ele fica pouco mais de uma hora, chorando. Pessoas que passam ao seu lado, muito nem prestam atenção, pois estão com pressa. Outros, olham e imaginam que é um rapaz desiludido da vida, ou que chora por um amor não correspondido e o deixam em paz. Omitem-se.

Duo chega correndo ao parque e procura o soldado perfeito em todos os cantos. Desesperado, ele corre sem parar tentando encontrar qualquer pista que o levasse até a pessoa que tanto o preocupa. Chegando próximo ao lago, ele se depara com uma cena que para sempre ficará gravada em sua memória. Heero. Caído ao chão. Soluçando um pouco. Ao se aproximar, ele percebe que o soldado perfeito chorava. Não entendia o por que daquilo, ele parecia transtornado. Ele encosta a mão no ombro de Heero que olha para o nada.

Quem é? Quem está aí?

Heero... calma. Sou eu, Duo.

Heero não acreditava naquilo. A voz era de Duo, mas como acreditar se ele não conseguia vê-lo. Seria uma armadilha de sua mente? Estaria ele delirando? Ele foi aos poucos se levantando e usando suas mãos começou a tocar o rosto e o corpo do piloto americano. Duo enrubesceu na hora com o contato das mãos de Heero. Ele não entendia o motivo do soldado perfeito estar tendo tais atitudes. Ele percebia que o toque do piloto japonês era temeroso, mas ao tocar em sua trança, ele relaxou.

Duo? É você?

Heero, o que está acontecendo? Por que está fazendo isso, não ta me vendo na sua frente?

Heero abaixa sua cabeça e o americano percebe o punho dele se fechar, tenso.

Não sei o que está acontecendo comigo... eu... estou cego.

O que? Para de brincar com isso Heero!

Eu não estou brincando. Eu... não posso ver nada. Tudo está branco!

Duo via as lágrimas voltarem aos olhos do soldado perfeito e sente um grande aperto em seu peito. Ele abraça forte seu amigo e percebe que uma lágrima solitária brota em seu rosto. Ele sabia que não poderia chorar. Tinha que apoiar o outro em um momento complicado como esse.

Vamos, eu vou te levar pra casa e de lá vamos te levar para um médico.

Não quero um médico.

Heero!

Pra que vou a um médico se ele vai dizer que estou cego! Nunca mais poderei pilotar, nunca mais poderei fazer o que fazia... eu me tornei um inútil que não sabe fazer nada...

Não! Você não é um inútil! Você é Heero Yuy. O melhor piloto que já existiu!

Mas de que adianta! Nunca mais poderei pilotar de novo!

Você falou com o médico? Você é médico?

Não...

Então... vamos, eu te ajudo.

Eles vão caminhando lado a lado. Heero se apoiando em Duo e ambos continuam até que finalmente chegam ao local que chamam de casa. Quando entram Duo começa a gritar para que os outros venham ajuda-lo.

Quatre! Trowa! Wufei! Venham até aqui, depressa!

Os três jovens ouvem os gritos de Duo e correm até a sala. Eles encontram o soldado perfeito com sua cabeça baixa, apoiado no ombro de Duo.

Temos que leva-lo a um médico! Urgente!

O que aconteceu com ele Duo? - Pergunta Quatre um pouco assustado.

Ele... está cego.

O que? - Falam os três não acreditando nas palavras do americano.

Depressa! Peguem o carro e vamos.

Os três não perguntam mais nada e começam a arrumar as coisas para partirem para a base da Aliança, onde encontrariam os melhores médicos do local. Trowa vai dirigindo, Wufei ao seu lado e Quatre atrás junto com Duo, que apóia a cabeça de Heero em seu peito. Os cinco jovens partem correndo para a base da Aliança. O olhar do soldado perfeito estava distante, como se tentasse utilizar seu lado mais racional dizendo para si mesmo que ficaria bem.

Ao chegarem a base, Duo apoiou Heero em seu ombro, levando-o direto para a enfermaria. Quando lá chegaram, levaram o soldado perfeito direto para uma bateria de exames oftalmológicos. Enquanto isso, os quatro outros pilotos só poderiam aguardar. Eles ficaram na sala de espera e tentavam imaginar o que teria acontecido com Heero.

Duo, o que aconteceu com o Heero? Você sabe? - Pergunta Quatre apreensivo.

Nem imagino. Quando cheguei ao local ele estava caído... chorando.

O que? ... Ele deveria estar desesperado, afinal, não conseguir enxergar de uma hora para outra deve ser um tanto traumático, não é mesmo?

Com toda certeza, mas... eu jamais imaginei ver Heero naquele estado.

Você tem idéia do que poderia ter causado isso?

Não. Mas... suspeito.

O que?

Duo consegue chamar a atenção dos outros que ficam parados, esperando que ele comece a falar.

Bem... eu... pensei que... talvez... Ele é o único piloto que conseguiu realmente domar o Zero System, certo?

E?

E se isso for um efeito colateral do Zero System?

Mas o Zechs também utilizava o mesmo sistema, não é verdade?

E se ele também estiver assim? Perdemos contato com Zechs.

Isso é verdade... será? Mas... se for isso...

Eu não sei. Tanto eu quanto você já tivemos a desagradável experiência de usar aquele sistema maldito.

Concordo... mas...

Eu não sei. Vamos esperar os médicos.

Após três horas de longa espera, um médico aparece.

Quem de vocês é o responsável pelo senhor Heero Yuy?

Eu! - Fala Duo se levantando antes que alguém se manifestasse.

Pois bem, me acompanhe, por favor.

Ambos vão caminhando por um corredor e entram em um escritório.

Qual o seu nome?

Duo, Duo Maxwell.

Pois bem Duo. A situação é a seguinte. Tentarei ser o mais claro possível para que não haja dúvidas.

Por favor.

A situação do rapaz realmente é delicada. Nenhum de nossos exames conseguiu detectar qualquer anomalia no globo ocular ou qualquer outra no sistema inteiro. Fizemos uma tomografia computadorizada, mas não sei se ela também irá acusar algo. O que eu tenho a dizer é simples. Eu não sei o que seu amigo tem e não temos nada parecido para que haja comparação.

Doutor eu...

Diga.

Heero era um piloto de Gundam, assim como eu. Mas a diferença é que ele utilizava um sistema conhecido como Zero System. O sistema ampliava seus sentidos em uma batalha e mandava muitas informações diretamente para o cérebro do usuário. Será que...

É uma possibilidade. Levem-no para casa hoje, estarei solicitando outros exames e passarei alguns remédios para que ele se sinta bem. Por favor, não comente com ele nada do que dissemos nessa sala. Em casos como cegueira crônica, a pessoa precisa acreditar que ficará boa, ou o tratamento não terá efeito.

Tudo bem. Obrigado Doutor.

Não precisa agradecer. Por favor, cuidem bem dele, ele precisará do apoio de todos.

Pode deixar.

Duo deixa a sala na companhia do médico e dirigi-se até o aposento onde Heero estava, passando antes pela sala de espera e explicando a situação aos companheiros. Ao chegar ao local, ele vê Heero com roupas de hospital, deitado em uma maca, olhando para o vazio como se tentasse enxergar algo.

Heero?

Duo?

Eu mesmo. Vamos?

Pra onde?

Pra casa. O doutor já te liberou! Isso não é ótimo?

Mas... o que eu tenho?

O doutor e Duo se entreolham e ficam alguns segundos em silêncio. Momentos que não passam desapercebido pelo soldado perfeito.

Ninguém sabe, não é? - Fala Heero esboçando uma feição triste no rosto.

Não, não é isso. Eles só precisam que você faça mais alguns exames.

... Está bem. Vamos?

Deixe-me ajuda-lo a se trocar primeiro.

Heero estremece com aquelas palavras. Duo o estaria ajudando a se trocar. Ele veria todo seu corpo. Não se sentia muito à vontade com isso, mas sabia não ter jeito. Duo retirou o avental que Heero estava usando e não pôde deixar de reparar no corpo do amigo. O tão desejado corpo do soldado perfeito. Ele realmente era perfeito. Um corpo com curvas delicadas, não muito forte e pôde reparar no baixo ventre, que dava sinais de um leve inchaço. Algo como querendo despertar.

Duo ficou um pouco ruborizado e começou a ajudar Heero a se vestir. "Aquela será uma das muitas tarefas difíceis que terá pela frente", pensou consigo. Depois de vestido, Duo e Heero encaminharam-se para a saída agradecendo ao doutor. Eles se encontraram com seus amigos na sala de espera e juntos, voltaram para casa.

Quando chegaram à residência, eles decidiram que deveriam ajudar Heero, pelo menos até ele se adaptar ao novo estilo de vida que levaria. Duo ofereceu-se para cuidar dele, levando em consideração que trabalhava apenas nas missões para a Aliança e não seria muito requisitado naquele período, o que deixou a todos aliviados. Quatre começou a pensar e comandar os outros dois rapazes a mudarem algumas coisas de lugar e tirar outras coisas da sala, afinal de contas, deveriam tirar tudo o que fosse considerado um obstáculo para o enfermo. Coisas quebráveis eram removidas dos locais, vasos, mesas no meio da sala, tapetes que poderiam deixa-lo escorregar, etc. Duo por sua vez, iniciou a sua triste sina de cuidar do soldado perfeito, começando pelo banho.

Vamos Heero, eu vou te ajudar a tomar um banho.

Eu posso tomar banho sozinho.

Você está louco? Pelo menos até se acostumar, eu vou te ajudar quer você queira ou não!

Mas...

Nada de mas nem meio mas. Eu vou ajudar e ponto.

Tomos olharam boquiabertos a atitude de Duo e sabiam que, em circunstâncias normais, Heero já teria grudado no pescoço dele, tentando estrangula-lo. Eles começaram a subir os degraus, Duo sempre zelando pelos passos de Heero. Ao chegarem no quarto, Duo encaminha o soldado perfeito para o banheiro. Aos poucos, Duo ajuda Heero a tirar toda sua roupa. O soldado perfeito fica com um pouco de vergonha, ao ficar em um estado tão vulnerável frente ao outro piloto.

Vamô lá Heero.

Aonde?

Peraí! - Fala Duo enchendo uma banheira.

Eles esperam a banheira encher e Heero aguarda meio impaciente. Ele fica um pouco nervoso, pois sente-se indefeso. Não sabe o que o outro fazia e o outro não sabia o que ele tanto queria fazer. Estava confuso. Aquela situação o estava deixando cada vez pior. Seus sentimentos afloravam de uma maneira estranha e ele não estava conseguindo controla-los.

Duo percebia que Heero estava um pouco inquieto e imaginava que o soldado perfeito se encontrava nesse estado devido à sua fragilidade psicológica momentânea. Ele via o olhar do outro rapaz perdido no nada, mas como se fizesse força para que as imagens adentrassem a sua vista.

Duo caminhou até onde Heero se encontrava parado e tocou em seu ombro, puxando o soldado perfeito para o lado da banheira.

Vamos, seu banho está pronto.

Agora você vai me deixar sozinho?

É claro que não. Vai que acontece alguma coisa com você Heero.

Heero sabia que ele tinha razão, mas queria aproveitar a privacidade do banho para pensar. E sabia que a presença de Duo ao seu lado, mesmo não o enxergando, apenas sentindo as energias que envolviam o outro rapaz, iriam tirar-lhe a concentração. Ele entra na banheira devagar, tomando cuidado para não escorregar. Duo, sempre segurando o soldado perfeito e o ajudando a entrar na banheira. Quando terminou de entrar, Duo começou a falar sem parar, mais para se distrair e tentar fazer com que Heero esquecesse a situação em si, mesmo sabendo ser difícil isso. Duo se empolga e começa a gesticular com as mãos enquanto ensaboa as costas de Heero, que apenas sorri com a animação do americano. Via nele um motivo para tentar... mas... até quando?

Acabado o banho de Heero, Duo o retira da banheira e começa a enxugar seu corpo, tentando deixa-lo seco. Tomou cuidado para não exagerar nos toques, pois percebia um certo arrepio quando tocava o corpo do soldado perfeito e temia por perder o pouco autocontrole que lhe restava. Deslizou as mãos pelas nádegas, costas, coxas e, quando chegou à área pubiana, sentiu o corpo de Heero tremer... e ficou com medo. O que será que o soldado perfeito havia pensado? Em quem estaria pensando para seus toques provocarem um arrepio tão forte? Por quem seu corpo ansiava tanto?

Duo sentiu medo. Medo de que realmente seus sentimentos nunca fossem correspondidos. Sabia que era difícil, agora, imaginava ser impossível. Estaria ele pensando em Relena? Ou será que uma outra pessoa havia conquistado o coração de Heero?

Ao terminar de secá-lo, ajudou-o a se trocar e o acompanhou até a cozinha, onde os outros deveriam estar esperando por ele. Quando os dois chegaram até a cozinha, Quatre ajudou Duo a alimentar o soldado perfeito. Todos conversavam e tentavam distrair Heero que se encontrava longe. Ele apenas voltou a si quando percebeu que Duo saía da mesa.

Aonde vai Duo?

Eu? Eh... eu vou tomar um banho agora. É a minha vez, certo? Quatre irá ajuda-lo a terminar sua refeição.

E depois?

Depois? Bem, se eu não tiver voltado, ele te leva para o nosso quarto.

... Está bem.

Heero continuou a se alimentar, mas algo dentro de si dizia que Duo não estava bem. Ele queria poder ler a mente de Duo. Nunca sabia o que se passava na cabeça do americano e queria poder ajuda-lo, afinal, gostava dele, mesmo que não quisesse admitir isso na frente de ninguém, nem para si mesmo...

Quatre se retira, logo que Heero termina e pede para Trowa e Wufei levarem o mesmo até a sala enquanto ele vai ver se Duo já saiu do banho. Quando chega ao quarto, ele abre a porta e encontra a porta do banheiro apenas encostada.

Duo?

Quatre?? O que você ta fazendo aqui??? - Fala Duo tentando se cobrir dentro do Box.

Eu queria conversar com você.

Sobre?

Você sabe muito bem sobre o que.

...

Duo... você tem certeza de que quer fazer isso?

Isso o que?

Duo, há muito tempo eu peguei você em um estado lastimável, no sótão da nossa casa. Em prantos, por algo ou alguém que até então eu não sabia.

Quatre... eu...

Espera, agora você vai ouvir eu terminar de falar.

...

Você estava soluçando de tanto chorar. Depois de muito insistir, você me disse o que tanto lhe afligia, talvez, por uma fragilidade momentânea, talvez por realmente confiar em mim, eu não sei... mas...

Mas?

De que adianta tocar e não ter?

O que?

O que você vai ganhar tocando-o, olhando-o, se você não poderá toca-lo como realmente quer, se você não poderá tê-lo do jeito que realmente quer?

Quatre eu....

Olha, eu sei o quanto você gosta dele, mas... não se acabe por ele. Você sempre conseguiu disfarçar seus sentimentos em meio às brigas, mas... hoje, quando chegou com Heero em seu ombro, qualquer um poderia perceber os sentimentos envolvidos naquele momento. O quão importante o soldado perfeito era pra você.

E justamente por isso, eu quero ajuda-lo.

Mesmo sofrendo?

Eu não ligo. Eu sei o quanto gosto dele e jamais neguei isso para mim mesmo. Não me importa o que os outros pensem de mim. Eu apenas não digo a ele para que eu não perca sua amizade... Quatre... eu amo ele... quero pelo menos estar ao seu lado...

Duo abaixa a cabeça e algumas lágrimas escorrem. Ele vira o rosto, tentando esconder a sua dor. Quatre se aproxima e coloca a mão em seu ombro.

Todos nós queremos que ele melhore logo.

Eu sei... Valeu pela força, mas eu quero fazer isso por ele. Não para toca-lo ou vê-lo, mas para ajuda-lo.

É difícil encontrar pessoas como você Duo. Espero que realmente consiga. Se precisar de ajuda, não hesite em me chamar.

Obrigado. Além do que, você tem que cuidar do Trowa, não é mesmo?

Quatre fica um pouco vermelho mas concorda acenando a cabeça. O loiro começa a sair do banheiro e se volta um pouco antes.

Posso trazer ele aqui pra cima?

Claro, deixa ele na cama que eu me viro depois.

Ok!

Quatre desce as escadas, pensativo. Ele sabia que Duo realmente gostava do soldado perfeito, mas não sabia o quanto. Ver Duo tão preocupado com Heero o fez perceber que o jovem americano realmente amava o piloto japonês.

*Eles merecem ser felizes*

O loiro se aproxima da sala e encontra os outros três rapazes, quietos, silenciosos.

E então Heero? Vamos para o seu quarto?

...

Heero não fala nada, apenas fazendo menção de se levantar. Trowa se levanta e ajuda o soldado perfeito a subir as escadas até seu quarto, acompanhado de Quatre. Eles acomodam o soldado perfeito na cama e apenas avisam que Duo está terminando o seu banho e logo estará aqui.

Duo sabia que o soldado perfeito já havia subido... ele estava apenas dando um tempo para que o mesmo se acostumasse e iria até onde o amigo se encontrava. Quando ele abre a porta, percebe Heero virando o rosto no colchão, tentando esconder lágrimas que escorriam pelo seu rosto.

Heero... - Duo caminha lentamente até o soldado perfeito e toca seus cabelos.

Me larga - Fala Heero bruscamente.

O que foi Heero?

Me deixa em paz! Sai daqui! Eu quero ficar sozinho!... eu... eu... por que? Por que isso aconteceu comigo? O que eu vou fazer agora?

Calma Heero... escuta, os médicos...

Os médicos que morram! Eles acham que eu sou burro? Será que eles pensam que eu nunca li nada? Eu nunca soube de nada sobre tal doença. O que está acontecendo?

O soldado perfeito gritava e Duo percebia pelo seu tom de voz a frustração pela qual ele estava passando. Ele estava triste, frustrado, magoado, perdido. Muita coisa tinha acontecido ao mesmo tempo para ele.

Calma Heero. Por favor, os médicos...

Eles não sabem nada... eu... eu... nunca mais poderei pilotar... nunca mais poderei fazer nada do que eu fazia... eu... não sei fazer nada mais... eu preferia estar morto agora...

Ele não termina a frase. Quatre abre a porta bem na hora em que Duo desfere um violento tapa nas faces de Heero e lágrimas escorriam pelo seu rosto.

Não fale bobagens idiota! Você pensa o que? Que é o único que está passando por isso? Que é o único que já sofreu ou sofre nesse mundo? Abra os olhos Heero Yuy, perto do sofrimento de muitos, o seu não é nada. Você tem seus amigos que lhe ajudam, os médicos da aliança que não querem de maneira alguma perder seu melhor piloto... médicos, remédios, amigos... você tem tudo o que muitos não tem... que dariam a vida para ter apenas uma pequena fração daquilo que você tem...

Os olhos do soldado perfeito ficam estáticos, demonstrando o susto que havia levado. Em um rompante, ele desaba em lágrimas no colo de Duo.

Calma. Relaxe. Descanse. Você está cercado de pessoas que te amam... eu inclusive... por favor, descanse...

Heero não ouve direito as palavras de Duo e após chorar muito, adormece, cansado, ainda no colo de Duo, apoiado em seu peito.

Duo arruma o soldado perfeito em sua cama e o cobre, depositando um beijo na testa de Heero.

Eu te amo... te amo muito... será que não percebe que se algo pior que isso acontecesse com você eu não agüentaria... e pediria para me juntar a você de algum jeito... mesmo que tivesse que tirar a minha própria vida...

Duo...

Quatre e Trowa que estavam na porta até então ouvem o que Duo dizia. Eles sabiam dos sentimentos que o americano nutria pelo japonês, mas nunca puderam fazer nada para ajudar, infelizmente. Duo se levanta e se dirigi até a porta, fechando-a as suas costas e recostando nela.

Ele chegou a desejar a própria morte...

Duo...

Quatre... Trowa...o que eu faço? Não quero que ele morra... não posso deixar ele assim...

Você já está fazendo tudo o que pode Duo - Fala Trowa com sua voz serena.

Mas... se ele continuar assim, não vai agüentar. Por mais debilitado que ele esteja, ele é o soldado perfeito. É uma questão de tempo até que ele consiga adaptar sua visão... ou sua cegueira e volte a pelo menos fazer algumas coisas... eu tenho medo que...

Que ele faça alguma besteira?

É...

Relaxe Duo, todos nós cuidaremos dele juntos - Fala Quatre com um sorriso no rosto.

Duo abraça os dois e agora deixa suas lágrimas escorrerem. Ele limpa sua alma nos braços dos dois amigos e, ao longe, uma pessoa deseja do fundo de seu ser que todos fiquem bem. Duo começa a se recompor e decidi voltar ao quarto, encarar o soldado perfeito.

Ele ficará bem, não se preocupe - Fala Quatre animando o amigo.

Eu sei... afinal de contas... ele é o soldado perfeito...

Duo despede-se dos dois namorados e volta ao seu quarto, abrindo a porta lentamente, para que Heero não acordasse de seu sono. Ele se ajeita em sua cama e dorme profundamente.

O dia seguinte chega e todos na casa são acordados por barulhos ensurdecedores na vizinhança. Sirenes e carros derrapando na rua. Quatre e Trowa que já estavam acordados se assustam quando derrubam a porta da sala e homens vestidos com roupas de quarentena aparecem por ela.

O que querem aqui? - Fala Trowa já se preparando para o combate.

Viemos buscar uma pessoa que está contaminada. A casa será isolada em quarentena e todos vocês devem nos seguir.

O que? Não tem ninguém aqui com doença contagiosa! - Fala Quatre surpreso.

Fomos avisados pelo hospital da Aliança que aqui era o lugar. Saiam da frente ou teremos de usar a força!

O que? Quer dizer que, ou deixamos vocês nos levarem ou irão nos levar a força? - Fala Trowa enervando-se.

Isso mesmo, rendam-se!

Nesse momento, Wufei desce as escadas, ainda um pouco sonolento e se assusta com a confusão na sala, dando um grito e pulando para trás.

Mas que confusão é essa aqui? O que está acontecendo? - Grita Wufei.

Eles querem levar todos nós para uma área de isolamento, alegando que estamos sob quarentena.

Quarentena do que?

De alguma doença contagiosa.

Mas o único que está doente aqui é o Heero e que eu saiba, cegueira não é contagiosa!

É ele mesmo que viemos buscar. Levem-nos até ele agora - Fala um dos guardas.

O que? O Heero? Mas ele ficou cego, não tem nenhuma doença contagiosa! - Fala Quatre indignado.

Escutem, por favor. Eu sei que não fizemos as coisas da maneira mais correta, mas é que as coisas estão saindo do controle. Desde ontem, vários casos de pessoas que ficaram cegas, mas enxergam tudo branco apareceram. Quase todas ao mesmo tempo. A única coisa que podemos fazer é juntar todas e submete-las a testes. Todos que tiveram contato serão isolados em outra área para verificar se também foram contaminados. Estamos com medo que isso seja algum tipo de arma biológica ou alguma coisa do gênero, pois... todos tem o mesmo sintoma. Nenhum....

Os jovens pilotos entreolham-se e pedem que os dois homens esperem na sala. Quatre e Trowa decidem subir e conversar com Heero, enquanto Wufei olhava as pessoas na sala. Ao subirem, Duo está segurando Heero apertado em seu peito.

O que eles querem aqui?

Vieram buscar todos nós. Ao que parece, não apenas Heero foi afetado por essa estranha cegueira. Eles estão reunindo todos que possuem os sintomas e as pessoas ao seu redor. Eles querem isolar essas pessoas e ver se conseguem descobrir o que está acontecendo.

Eu vou - Fala Heero soltando-se de Duo.

Espera, vamos conversar.

Não! Os médicos não disseram que sabiam o que estava acontecendo? Não eram eles que só queriam mais alguns exames? Pois bem, eu vou com eles... talvez eles não consigam encontrar uma cura, mas... eu terei tentado ajudar.

Heero, espera... eu...

O soldado perfeito olha para o vazio, enquanto tenta descobrir onde Duo estava para tentar encara-lo.

Eu vou com você... vamos nos arrumar...

Duo fala com pesar na voz. Ele sabia que talvez não fosse a melhor alternativa, mas Heero queria ir. Ele tentaria de tudo para voltar a enxergar... tudo. E Duo... faria qualquer coisa para ajuda-lo... qualquer coisa.

Os quatro descem as escadas e Duo vai ajudando Heero da maneira que pode. Os homens começam a colocar Heero e os outros em invólucros isolantes e os levam até um caminhão que estava estacionado na rua.

Ao adentrarem ao caminhão, eles percebem que várias outras pessoas estão ali. O caminho é longo e todos vão quietos. Heero estava acuado, sem nada ver, ele nem imaginava o que poderia estar acontecendo ao seu redor. Sozinho... ele tentava negar mentalmente o desejo que tinha de estar ao lado de Duo. Pelo menos, o outro o faria companhia.

O caminhão para de maneira brusca e as portas são abertas. Eles dão de cara com um armazém muito grande e branco, totalmente isolado. Os médicos vão retirando as pessoas das bolhas e eles vão se reunindo. Os cinco pilotos conseguem novamente se reunir e ficam atentos.

Atenção a todos. Vocês foram trazidos até aqui, pois representam um perigo à todo o planeta - Todos ficam assustados com as palavras do médico e tentam se conter.

O que está dizendo? Nós fomos trazidos até aqui para que tentassem achar uma cura para essa doença estranha, que nem vocês sabem o que é! - Grita ao longe um senhor de idade.

Isso foi o que disseram. Vocês foram trazidos até aqui para servirem de cobaias. Caso os experimentos falhem, ninguém sentirá a falta de vocês. Precisamos de uma cura caso essa doença estranha atinja alguém importante.

O que? Você está louco? - Fala Duo levantando-se - Não vamos deixar isso acontecer!

Ah... vocês devem ser os jovens pilotos. Nós já cuidamos disso também. Sabíamos que estaria aqui e preparamos uma recepção especial para vocês.

O suposto médico mal acaba de falar e os jovens pilotos mal conseguem reagir. Cinco dardos os atingem e eles desmaiam. Heero só percebe que tudo vai ficando preto e se pergunta se agora realmente ficará como um cego...

* * *

Os cinco pilotos acordam presos em paredes por grilhões. Braços e pernas imobilizados. Eles se entreolham e percebem que Heero não está no local. Duo percebe uma outra sala à sua frente e enxerga a forma do soldado perfeito ao longe. Ele vê Heero, solitário, com várias pessoas rondando ao seu redor. Uma dessas pessoas foi até a parede e ao apertar um botão, o corpo de Heero foi erguido por correntes, deixando-o nu e exposto aos exames dos supostos médicos.Os médicos passaram a examinar o corpo do soldado perfeito minuciosamente, utilizando as roupas de isolamento e com lupas em suas mãos ele iam tocando o corpo do soldado perfeito e querendo saber se algo havia deixado marcas. Eles olhavam e anotavam. Duo viu desesperado o corpo de Heero ser tocado, explorado... ele imaginava o que os médicos estavam fazendo com ele...

Quando Duo pensava que havia terminado, pois tinha visto todos os médicos se afastarem, uma luz intensa envolve todo o quarto à sua frente. Ele percebe o corpo do soldado perfeito se retorcendo ... eletricidade... eles estavam utilizando choques em Heero. A corrente elétrica descia pelas correntes e atingia o corpo nu e frágil do soldado perfeito em cheio. Os quatro ficam horrorizados com o que vêem, mas não conseguem desviar seu olhar. Era Heero quem estava lá, sofrendo. Para Quatre, Trowa e Wufei, Heero era um amigo querido. Eles sofriam com ele. Para Duo, era a pessoa que ele mais amava nesse mundo a sofrer, à sua frente... dor... desespero... solidão... Heero já tinha sofrido tanto... não era justo sofrer mais... lágrimas escorrem pelos olhos de Duo, enquanto o mesmo tenta instintivamente soltar os grilhões e se aproximar de Heero.

Heero... - Sua voz era quase um sussurro ante as lágrimas e soluços...

Duo... - Fala Quatre observando o amigo.

Heero...

Duo, para com isso... seus punhos...

Heero... eu tenho que ajudar ele...

Os braços de Duo mostravam o sangue que escorria de seus pulsos. Na ânsia de tentar salvar Heero, Duo forçava cada vez mais os grilhões que acabavam por machucar seus pulsos, fazendo os mesmo verter sangue.

Heero... HEERO!!! - Grita Duo ao final, ficando pendurado pelos braços, soluçando, desiludido... chorando... pedindo... orando... sangrando...

A luz na sala a frente deles para. Dois dos médicos seguram o soldado perfeito pelas correntes e vão trazendo o mesmo até o local onde os outros cinco estavam presos. Heero estava inconsciente e foi jogado na maca à frente de Duo.

Cuidado moleque! Ou vai acabar sangrando até morrer! - Fala um dos médicos para Duo.

Pode ter certeza que, antes de morrer, eu levo todos aqui dentro comigo.

O que?

Isso mesmo que ouviu! Eu vou me vingar de todos vocês pelo que eu e meus amigos estamos passando.

Quem você pensa que é?

Eu sou o SHINIGAMI! Eu sou o anjo da morte que virá clamar por suas almas e com minha foice leva-las para a Terra dos Mortos.

Cale-se!

O que foi? Tens medo?

O oficial desfere um soco no rosto de Duo, que apenas vira o rosto e sorri.

Bata... mas bata forte... afinal de contas, deves aproveitar enquanto pode.

Cale a boca maldito! - Fala o oficial chutando o rosto de Duo.

Ao perceber que Duo havia desmaiado, ele deixa a sala visivelmente transtornado. Com Heero de volta ao quarto, os quatro se voltam uns aos outros e começam a pensar em como sair de lá. Ao perceberem que Duo acordou, os outro três pilotos percebem o ódio nos olhos violeta do jovem piloto. Eles sabem que Duo não vai parar até conseguir o que quer. Trowa começa a tirar algo de dentro da sua boca e lentamente ele vai destravando os grilhões em seu braço. Ao ficar totalmente solto, ele corre para o lado de Duo e o solta rapidamente. Duo estava com tantas dores e seu corpo tão cansado que ele não agüenta e desaba nos braços de Trowa, praticamente desmaiando em seguida. Trowa ajeitou Duo ao lado de Heero e foi soltar os outros dois companheiros.

Trowa... como é que você arrumou isso? - Pergunta Quatre.

Ora essa, você sabe que eu desconfio de tudo e todos. Apenas me precavi e coloquei isso na boca, um pouco antes dos dardos nos acertarem.

Sorte nossa você saber fazer isso - Fala Wufei massageando os pulsos.

Temos que nos concentrar em tirar os dois daqui e depois disso, em algum jeito de libertar todos.

Por que não lutamos? Ganharíamos facilmente deles! - Fala Wufei fechando os punhos.

Você está louco? Olhe para os dois! Eles não estão em estado de entrar em nenhuma batalha! - Fala Quatre sério.

Concordo com Quatre. Temos que cuidar de nossos amigos agora e tentar retornar e salvar os outros. Mesmo nós não estamos em condições de lutar com ninguém.

Certo...

Trowa e Wufei pegam Duo e Heero no colo e partem para fora da sala, buscando o melhor lugar para se refugiarem enquanto se recuperam para voltar à ativa. Quatre vai na frente, observando o local e tentando passar desapercebido pelos corredores, que no momento, pareciam abandonados. Eles chegam aos próximos à saída quando ouvem um alarme tocando. Todas as portas começaram a ser seladas e antes que a última se fechasse, os três conseguem deixar as dependências da atual prisão. Os mesmos continuam caminhando, tentando encontrar um local seguro, quando Trowa vê e lembra onde estava. Eles estavam em uma antiga base de operações da OZ. Trowa indica o caminho e eles vão entrando na antiga base.

O local estava um pouco destruído, mas ainda assim servia como um bom abrigo. Heero e Duo foram deixados dormindo em um local seguro, enquanto Quatre fazia a guarda deles, Trowa e Wufei foram investigar os arredores, tentando verificar alguma possibilidade de encontrarem mantimentos ou então armas. Eles ficaram boquiabertos quando encontraram suprimentos em estoque e muitas armas, além de um antigo carro.

Eles voltam trazendo mantimentos e logo que chegam, Duo acorda. Ele estava assustado e confuso e ao ver Heero deitado ao seu lado, começa a tocar-lhe o rosto ferido.

Heero... Heero... você está bem, não é mesmo?

Sem resposta. Duo deixava algumas lágrimas saírem de seu rosto para então limpa-las bruscamente, tentando evitar sem sucesso que novas caíssem pelo seu rosto. Ele pega alguns medicamentos que seus amigos o ofereciam e limpa seus ferimentos e os de Heero. O soldado perfeito estava apenas com alguns cortes em seu rosto e no resto do corpo, mas nada que fosse muito grave, aparentemente. Duo ainda sangrava e tentava estancar o sangue que escorria pelos seus pulsos. Ele estava com a cabeça de Heero em suas pernas e uma de suas lágrimas escorrem pelo seu rosto, atingindo o olho do soldado perfeito.

Heero vai aos poucos voltando a si quando ouve as lágrimas de alguém. Ele se lembrava de muito pouco. Várias pessoas tocando seu corpo e de repente uma dor intensa. Nada mais. Ele havia sentido uma gota de algo pingando em seu rosto. Não queria abrir os olhos, não queria abrir os olhos e ver que não enxergava, não queria abrir os olhos e deixar seus torturadores saberem que ele tinha acordado novamente. Foi então que ouviu os soluços de alguém.

Heero... por favor... fique bem... você não pode me deixar sozinho...

...

Eu... eu... te amo tanto... - Fala Duo quase sussurrando e voltando a soluçar em lágrimas.

Era a voz de Duo... mas seria ele mesmo? Não, não podia ser... Duo não amava ele, Duo o odiava! Sempre discutiam, sempre brigavam.

Foi então que o soldado perfeito começou a relembrar todos os eventos que havia acontecido desde que ficara cego.

*Como Duo sabia onde ele estava? Ninguém sabia que ele freqüentava aquele lugar. Duo o havia apoiado e quando ele apenas citara a possibilidade de ter morrido, o americano havia dado um tapa na cara dele... será que... será que ele vinha se enganando esse tempo todo? Será que ele realmente amava Duo e seria correspondido? Afinal de contas, sempre negara esse sentimento dentro de si com medo da reação do americano. No fundo, só queria estar ao seu lado e, sempre atacava com medo de não agüentar a presença do outro e roubar-lhe um beijo.*

Heero lentamente abre seus olhos e percebe que continuava cego, mas... a simples presença do americano ao seu lado lhe iluminava a vista, a vida, a alma. Ele busca o rosto do jovem que o apóia e ao encontra-lo, ele o toca suavemente. Heero ia acariciando levemente o rosto de Duo, com medo de uma possível rejeição por parte do americano. Duo por sua vez ficou espantado quando sentiu seu rosto ser acariciado por alguém.Quando ele abre seus olhos, Heero olha para cima, seus olhos sem foco, mas ainda sim sua mão procurava o rosto de Duo.

Não chora.

Por que? Você sabe o que aconteceu para que eu estivesse assim?

Não... mas... não chora.

Por que?

Por que... eu.. eu... bem.. eu... gosto.. do seu... sorriso. Ele me ilumina, mesmo nesse estado em que eu me encontro. Ele me dá paz...

Heero... eu...

Não! Não sai... espera... eu... preciso falar... com você...

Acho que nós vamos dar uma volta - Fala Quatre puxando Wufei e Trowa.

Ao perceber a voz de Quatre, Heero recua um pouco, mas decide continuar.

Eu... você... você... está bem, não é mesmo?

Sim, eu estou bem Heero. E você?

Parece que um caminhão passou por cima do meu corpo, mas... eu to bem... vou ficar legal.

Nós vamos voltar ao local da pesquisa, amanhã cedo.

Onde estamos?

Em uma antiga base da OZ que foi abandonada há pouco tempo atrás.

Vocês fugiram?

Isso mesmo. Não vamos deixar eles te usarem mais Heero. Vamos lá e acabaremos com tudo.

Eu vou com vocês!

Não! Você sabe que não pode. Nesse estado você não poderia fazer nada.

Mas... eu... não quero que vá..

O que?

Eu... não quero que morra...

Não vou morrer! Eu vou voltar...

Eu... espero que sim...pois... eu... eu... gosto... muito... de... você...

Duo fica espantado com o que ouve e Heero fica vermelho ao dizer tais palavras. O soldado perfeito sabe que se algo der errado no dia seguinte, Duo pode correr risco de vida. Ele não quer isso.

Fica aqui, vamos embora daqui... chame os outros... vamos para uma colônia ou algo do gênero... não quero que se arrisquem tanto por mim.

Heero....

Eu... eu... não sei o que está acontecendo comigo e não faço questão de saber, mas o que posso dizer é que... estou com medo... estou confuso... eu... sempre soube tão bem aonde ir ... e o que queria... agora... eu não sei...

Heero... relaxa... dorme... descansa bastante e amanhã nós vamos cuidar disso.

Não!... eu...

Heero toca o rosto de Duo, tentando localizar a pessoa que tanto quer. Ele se espanta com sua reação, mas sabe que talvez não tenha mais a chance de fazer isso.

Duo.. eu ... posso te pedir uma coisa?

O que?

Eu... bem... eu... queria...um... beijo... - a última palavra é sussurrada e Duo fica vermelho como um pimentão ao ouvi-la.

Ele não sabe como reagir... era o que ele sempre quis ouvir... mas...tinha medo... sem pensar nas conseqüências, ele toma o soldado perfeito nos braços e o abraça forte, conduzindo lentamente seu rosto até que suas bocas ficam quase se tocando... antes do beijo, ele diz bem próximo ao ouvido de Heero.

Isso é algo que eu sempre quis fazer... eu te amo... Heero.

Ao ouvir isso, Heero estremece e logo em seguida sente a boca de Duo cobrir a sua e a língua do americano invadi-la. Heero sente seu corpo e o de Duo estremecerem ao contato e sabem que não há volta. Eles percebem quanto tempo perderam e tudo o que poderiam ter aproveitado. Aos poucos, dentro dele, ele aceita seus sentimentos por Duo e anseia por tocar todo o corpo do americano. Ele deixa sua mão deslizar pelo corpo bem torneado do americano e sente um arrepio percorrer sua espinha. Ele pode sentir o amor que emana do corpo de Duo e quer corresponde-lo. Ele compreende a tolice que foi negar isso tudo.

Aos poucos eles vão se distanciando e os olhos de ambos vão se abrindo. Duo vê o olhar de Heero perdido e uma lágrima solitária escorre pelo seu rosto.

Eu te amo tanto... faz tanto tempo... eu queria poder fazer algo para ajudar...

E você já fez. Me tirou um peso de dentro do coração tão grande... Eu sempre procurei negar meus sentimentos por você... eu sempre pensei que se um dia admitisse isso, você jamais me perdoaria... eu ficava me enganando... me privando... da felicidade..

Heero...

É sério...eu... percebi que... não posso viver sem você. Você estar vivo já me ajudou... obrigado ... Duo.

Ambos se deitam e dormem abraçados até o amanhecer. Quando o sol está despontando no horizonte, os cinco pilotos acordam. Heero é o último a acordar e vai abrindo os olhos lentamente. Ele se espanta com a claridade, pois em seu estado, tudo ficava branco, mas não claro. Ele olha ao seu redor e vê todos os seus amigos se arrumando. Ele vai lentamente se erguendo e vê Duo se aproximando dele.

Fique deitado. Nós vamos até lá e voltaremos logo.

Eu já disse que vou junto - Fala Heero ficando emburrado.

Teimoso! Parece até que voltou ao normal.

Heero apenas sorri e puxa Duo para si roubando-lhe um beijo.

Obrigado... não sei o que você fez, mas eu voltei a enxergar...

O que?

Estou falando sério. Obrigado mesmo... eu... eu... eu te.. amo...

Duo sorri e todos ao se redor também.

Você pode ver de novo???

Posso.

Que bom! Vamos, pegue uma arma, vamos libertar aquelas pessoas!

Heero começa a se arrumar e os cinco juntos se dirigem para a base do inimigo. Antes que chegassem até lá, travaram uma dura batalha contra os soldados. Mas eles tinham a seu favor o soldado perfeito. Não tinham como perder.

Após cuidarem dos feridos, todos eles resgatam os "reféns" e deixam a base, levando todos de volta para suas casas. O que todos acharam mais estranho foi Heero conversar com cada um dos que estavam doentes e perder alguns minutos com todos, até que terminaram.

Quando voltam para casa, todos estão exaustos e procuram logo descansar. Duo e Heero entram no quarto que pertence a ambos e desabam em suas camas.

Heero... eu posso perguntar uma coisa?

Pergunta...

O que foi que você conversou com todos?

Eu... bem...eu disse a minha opinião sobre do que se tratava o estado que cada um se encontrava.

O que?

Eu acho que sei por que fiquei assim.

E por que foi?

Eu não queria enxergar o óbvio.

Ã"bvio?

Que eu te amo.

Duo fica espantado com a naturalidade com que Heero havia dito tal coisa e se levanta. Ele caminha lentamente e senta ao lado de Heero na cama dele. O soldado perfeito aproveita que ele estava meio indeciso e puxa Duo com força para que o mesmo caia em cima dele.

Peguei você. E agora, eu não vou mais deixar você ir.

Sei... mas...por que você acha isso?

Sobre o que?

Sobre a sua cegueira temporária?

Eu não sei se foi influência de alguma força externa, mas... como diz aquele antigo ditado, "pior cego é aquele que não quer ver".

Os dois trocam beijos e carícias apaixonados, prometendo nunca mais se deixar cegar pelas incertezas da vida e fazendo juras de amor eterno. A noite é longa e ambos aproveitam para tirar o "atraso" do tempo em que ficaram separados.

The End.

Ryu K.

Novembro/2002.