Fan Fiction ❯ A Pedra de Ônix ❯ As Visitas de Richter ( Chapter 2 )
* A Pedra de Ônix *
Autoria de Youko Yoru
Yaoi Art ML
Estilo: Lemon, Em Capítulos
E-mail da autora: youko_yoru@hotmail.com
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Capítulo 3 - As Visitas de Richter
Eu não gostava de Lord Edwards, e sentia muitas saudades de meu pai. Continuo a não saber se havia algum fundamento a respeito das lendas sobre Chernoir; todavia, vi (ou imaginei ter visto, quem sabe) o meu pai, extremamente pálido e despenteado, andar à volta da casa durante a noite. Ele me pareceu tão lívido quanto um cadáver, e tinha os olhos muito vermelhos. Vestia uma longa capa escura e esfarrapada, suja de terra. Não apenas uma noite ofertou-me esta visão; foram várias. Eu tinha a mais absoluta certeza que era o meu pai que voltava, e a felicidade que me preencheu a alma não teve medidas.
Em uma noite de lua muito clara, vi que ele se aproximava de minha janela. O vi colar os dedos finos e brancos ao vidro, e aproximar o rosto da superfície. Os cabelos castanhos caíam sobre sua testa, os olhos pareciam duas tochas extinguindo-se em brasa, os lábios ressecados não possuíam mais cor alguma. Era como a face de um morto, cuja pele macilenta estivesse pronta a cair e revelar uma caveira roída pelos vermes. Era o meu pai.
Fui encontrado no dia seguinte, descalço e de camisola, sentado nas escadas da entrada de casa, tremendo de frio. Uma bronquite aguda levou-me à cama, quase me levando também à morte. Eu insistia em dizer que havia visto meu pai; minha mãe, todavia, crendo serem minhas palavras agoniadas simples delírios causados pela febre, não me acreditou. Em meu curto entendimento de criança, eu já sabia que meu pai havia morrido; e desejei pela primeira vez morrer também, para vê-lo mais uma vez. Outras vezes tive o mesmo desejo, mas por motivos diversos. Ou talvez fossem os mesmos, e eu não percebi...
Lord Edwards sentia muitos ciúmes de mim, por saber o quanto minha mãe me amava; ele dizia que eu lembrava muito o meu pai na juventude, e me chamava por seu nome: "O Pequeno Richter". Era assim que meu padrasto se referia a mim, com uma ponta de ironia na voz. Eu sabia o quanto ele me detestava. E eu não fazia questão alguma de demonstrar-lhe qualquer afeto; o olhar da criança e do adulto se digladiavam com a mesma força, ocultos dos olhos daquela a que ambos amavam.
Uma noite, quando eu e minha mãe estávamos sozinhos em casa, ouvimos leves passadas na sala de estar; eu estava ainda mais assustado que ela, mas, numa demonstração infantil de ousadia, fui à sua frente quando nos dirigimos até ali. E ela pôde ver o que eu há muito já vira.
Era uma criatura que lembrava um homem, de capa escura e rota, faces mais pálidas que a lua pendurada nos céus. Parecia estar ensopado, mas não chovia; as pontas de suas mangas, pesadas de água, deixavam cair grossos pingos. As franjas castanhas, gotejantes e grudadas sobre a testa alta, não escondiam dois olhos rubros como um fogo que se apagasse lentamente. Nas mãos ossudas, de dedos compridos, uma rosa ressequida e amassada. Os lábios descorados se moviam, mas nenhum som saía deles. Aquele espectro medonho era o meu pai.
Minha mãe não desmaiou e sequer gritou, como eu esperava que fizesse; ela somente sussurrou.
- Richter...
E correu para abraçá-lo. Ele a envolveu em seus braços e a apertou muito, como se também sentisse grande saudade; depois me colocou no colo como se eu tivesse outra vez sete anos. Seus lábios gelados colaram-se em minha testa e em minhas bochechas; meus braços envolveram o seu pescoço frio, e era como se tocassem uma laje fúnebre. Mas em momento algum eu o repeli. Não sei o que houve depois; Lord Edwards veio achar-nos, eu e minha mãe, abraçados e sentados no chão da sala, em meio a uma poça de água. Apertada nas mãos dela, uma rosa murcha e quase sem pétalas.
Depois disto, minha mãe transformou-se por completo; sua voz, que havia emudecido pela tristeza, tornara a ser ouvida, e até cantava. Mas, ao mesmo tempo em que isto ocorria, afastou-se de Lord Edwards. Eu percebi que ela sentia reavivada dentro de si a memória de meu pai, e cria firmemente que a visita que ele lhe fizera fora real. Meu padrasto, ignorando completamente o que ocorrera, pensou que ela arranjara um amante, e a trazia sob rigorosa vigilância; mas nada acontecia que pudesse incriminá-la ou confirmar suas suspeitas infundadas. E isto o aborrecia profundamente.
Em segredo, minha mãe disse-me que meu pai aparecia em sua janela todas as noites; então ela passou a dormir em meu quarto, separada de Lord Edwards. Não desejava mais tê-lo perto de si; considerava isto uma traição a seu "verdadeiro e único marido", como ela dizia. A fúria de meu padrasto chegou ao ódio, o qual ele voltava para mim. Então coisas terríveis se sucederam.
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Julho, 2003